Esses dias me ocorreu um questionamento a partir de uns emails que recebi: Seríamos mais generosos, receptivos, amorosos, gentis, aptos ao serviço e altruístas se tivéssemos a comprovação, da maneira mais inequívoca, que não existiria Deus?! Temos uma Fé em comum, pelo menos eu penso que sim, em que chamamos de “Servir a Deus” o servir às pessoas, sermos éticos, sermos aptos à bondade e condicionados, pela nossa “confissão de fé”, a estarmos sempre em mansidão e com um comportamento moralmente aceitável na sociedade como algo que corrobora ao “bem-comum”.
Não consigo não pensar em uma palavra quando ouço esses argumentos: Barganha. Tenho visto em minha observação que as pessoas são o que são por interesse. Pelo menos a maioria das pessoas que conheço que professam um comportamento atrelado a uma fé, tem uma justificativa plausível para seu modo de agir perante a vida. Elas quase sempre relacionam isso a uma “recompensa”. Jesus eternizou para nós a classe sacerdotal do Templo de Israel, os fariseus, transformando-os, no meio cristão, em um adjetivo. Fariseu é um adjetivo que denota hipocrisia.
“Vocês são como sepulcros pintados de branco” – expressão forte e contundente de Jesus que demonstra o intento das ações motivadas a agradar os outros (seja esse outro até mesmo Deus) por meio da ação que não se mostra como realidade do que já é dentro daquele que a pratica. Ou seja, ações motivadas por interesses, os quais sejam de serem vistos como importantes ou até mesmo de praticar uma Lei que existia apenas gravada na pedra para agradar a Deus, como menino obedece ao pai simplesmente para não ficar de castigo.
O Chamado de Jesus transcende as pedras, pois que, como disse o Batista, até elas podem virar Filhos de Abraão (típico testemunho farisaico de uma arrogante afirmação de um pedigree religioso – a descendência abraamica). No entanto, a conduta dos cristãos diante do mundo não demonstra esse vínculo que Jesus promove de amor e de serviço à vida. Estamos diante da condição de pessoas que apenas não querem perder o Seguro-Eternidade. Ou mesmo preocupados com insetos (por exemplo, gafanhotos), sobre como podem apenas se livrar do dinheiro do bolso como manutenção culposa da causa de um “Deus” que está bem preocupado com o que faço do meu tempo e dinheiro, pois do contrário, a lenha vai descer!
“... limpos e belos por fora, mas por dentro...” – diz Jesus.
Falta-nos gratidão que seja maior do que nossa falta de fé. Falta-nos interesse de recompensa que acontece no momento da entrega. O Serviço a Deus é a própria recompensa do Serviço a Deus. Vejo isso todos os dias. Quando percebo alguém que não é de nenhum grupo religioso ao qual eu esteja ligado ou simpatizante, mas no momento que ajuda ao outro se sente satisfeito. Deus nos fez capaz de receber um galardão imediato servindo à vida e nós, que somos mais do que maus, porém perversos e mesquinhos, dizemos que isso será recompensado no “Paraíso”. Que paraíso é esse que não se chega satisfeito apenas por Ser, ao invés de estar apenas na espera de uma recompensa, um pagamento.
Lembro-me da parábola do Dono de uma Vinha que pagou, no final do Dia, o mesmo valor para quem começou a trabalhar no começo ou quase no fim do mesmo. Lembro-me da reclamação, na Hora do “Pagamento”, do valor ter sido o mesmo daqueles que “trabalharam menos”.
“Amigo, não te faço agravo; não ajustaste tu comigo um dinheiro? Toma o que é teu, e retira-te; eu quero dar a este derradeiro tanto como a ti. Ou não me é lícito fazer o que quiser do que é meu? Ou é mau o teu olho porque eu sou bom?” - Mt 20:13-15.
Olhos maus – Esse é o diagnóstico do Dono da Vinha. Acaso temos visto isso entre nós? Será apenas algo localizado, ou estamos diante da gênese das intenções religiosas “em nome de Deus”? Nossos olhos podem nos levar a uma existência que vive de barganhar favores ao Eterno porque estamos cumprindo os seus “mandamentos”. Diante de olhos maus tudo o que se enxerga é favor e troca. Almas de mercadores, que vivem do ‘escambo-nosso-de-cada-dia’, sem ver o óbvio de sua postura: Vivemos apenas para si mesmos, até quando, presunçosamente, ‘obedecemos a Deus’.
A esperança nossa é a que, cada vez mais, o Evangelho nos mostre como somos medíocres na nossa relação com a vida. De como muitos outros que sequer professam uma “fé” conseguem enxergar muito melhor esse melhor Caminho para a vida onde servir é o único Caminho a seguir. Na parábola do Samaritano, o herói é o herege. O que não vai ao Templo. O que não “obedece a Deus”. Para Deus, ele é o herói. Para a religião, ele é o herege.
Que cada um, no dia chamado Hoje, escolha a quem deseja agradar.
Anderson Villaverde
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