A Graça de Deus é uma realidade inexorável. Não há nada que possa limitá-la ou moderá-la. A Graça não se submete aos "esquemas" teológicos que tentam absorvê-la e diluí-la em suas teses, dogmas e doutrinas.
Qualquer tentativa de interpretá-la como um elemento residual da fé é uma perversão da mensagem do Evangelho e uma perda do sentido de Cristo como manifestação graciosa de Deus aos homens, salvação da morte eterna à qual jazíamos, condenados.
A Graça não esta fenecendo, mas deixou de ser o conteúdo crucial da mensagem cristã, que hoje prefere se valer da moral religiosa e das tradições como princípios basilares de sua prática.
A Missão do discípulo de Cristo, nos Evangelhos, nunca foi esta. Nunca houve a tentativa de se estabelecer como ideologia vencedora, convincente o suficiente a ponto de suplantar outras manifestações de fé.
O mundo é atualmente considerado por muitos como "pós-cristão". O cristianismo vem falhando em comunicar a mensagem de "boas novas". Não há nada novo no que se diz, em como se faz, em como se vive e em como nos relacionamos.
Isso não significa que os cristãos vivem como Jesus, portanto, assumindo uma postura típica do tempo em que Cristo habitou a terra, não! Este é o problema! O viver de Jesus, sim, significava o anúncio de boas novas, de novidade na maneira de encarar a vida e o próximo, os cristãos, todavia, ainda encarnam e anunciam uma experiência anterior a Cristo, uma relação baseada na Lei e que tem Moisés como centro irradiador, tal o paganismo que afeta a sua espiritualidade e que norteia a relação com Deus.
Quando Nicodemos esteve com Jesus, a sua fala inicial dá conta do significado preliminar de Jesus para ele: " bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele".
As pessoas recorriam a Jesus, ainda que fossem samaritanos, cobradores de impostos ou uma prostituta. Eles o procuravam por que a sua reputação era de um homem justo, verdadeiro e amoroso.
Os cristãos ganharam a reputação de ser a "polícia moral" da sociedade.
Jesus foi acusado de ser amigo dos pecadores, de comer com publicanos, de beberrão e comilão.
Jesus era acusado de andar com a multidão errada o tempo todo. Nós insistimos em viver desconectados da multidão "errada" ao passo que Jesus atraia todos para si.
Nós, discípulos de Jesus, não conseguimos comunicar que temos a água da vida que sacia o sedento que nos rodeia.
O mundo dito pós-cristão dispensa a mensagem que os cristãos anunciam.
A mensagem poderá ser ouvida como um brado retumbante quando ações de amor e misericórdia forem mais presentes no dia-a-dia dos cristãos.
Não será preciso nenhuma defesa da fé, mas atos de amor que revelem verdadeiramente Deus, que é amor.
O discurso não deve ser acusatório, condenatório ou de juízo sobre ninguém. O ensino do Evangelho nos mostra que o convite deve ser como de um peregrino: Vejam, nós estamos na mesma jornada, mas há algumas coisas que aprendemos sobre o destino ou sobre a caminhada que nos ajudaram e podem ajudar você também.
Jesus usou uma frase que faz toda a diferença para os seus discípulos: "estar no mundo, mas não ser do mundo". Os cristãos tendem a se relacionar com a sociedade de, pelo menos, três modos: fortificação, acomodação e dominação.
Nós nos entricheiramos, nos refugiamos em nossas verdades absolutas e construímos um fosso entre nós e os que eventualmente pensem diferentemente.
A maioria gosta de estar envolvida com gente absolutamente igual todos os dias. Fazem isso pretendendo proteger a sua "fé". A verdade é que as suas convicções são ainda frágeis demais, por isso preferem viver no "gueto dos iguais". Jesus disse que nos enviaria como ovelhas no meio de lobos, não nos esconderia em trincheiras religiosas.
A acomodação, por sua vez, nos conduz a esconder e sonegar as boas novas do Evangelho.
A dominação termina sendo uma das piores maneiras de nos relacionarmos com o mundo, impondo modelos e comportamentos,
A proposta do Evangelho é para sermos anunciadores do Reino de Deus e mostrar ao mundo um modo diferente de ser humano. Não somos chamados a limpar e purificar a sociedade. Jesus ou Paulo jamais gastaram tempo nisso.
Um dos textos mais lindos das escrituras está em hebreus 12:15, que diz: "cuidem para que ninguém perca ou seja privado da Graça de Deus".
Se nos dedicarmos a fazer esta caminhada em Deus observando e vigiando para que ninguém perca a maravilhosa oportunidade de viver esta graça, nós haveremos de mostrar ao mundo um lindo caminho para sermos humanos.
Romualdo Junior
Caminho da Graça – Estação Salvador
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