Um menino certa vez recebeu um trabalho da escola. Ele e
todos os seus colegas levariam uma foto descontraída de seus pais. Quando
chegou em casa, tentou pegar o momento mais despreparado do seu pai. Este, que
acabara de se cortar com a navalha de barbear, saiu irritado do banheiro e com
feições de dor e chateação. O jovem, obedecendo ao trabalho escolar, tirou a
foto e levou no dia seguinte para a turma. Cada aluno, levando a foto do seu
pai, teria uma avaliação por parte dos colegas de quem era o pai do colega a
partir da imagem. Esse jovem ouviu sobre seu pai ser duro, ditador, sério e com
poucas possibilidades de relacionamento carinhoso. Ao que eles, ouvindo o filho
do homem, se surpreenderam dele dizer: “Meu pai é ótimo. Um amigo, sempre me
ouve, amoroso, que se preocupa o tempo todo em como estou e com meu bem-estar”.
Durante muitas eras, a personificação de um deus foi a
característica mais marcante das civilizações. Cada ‘deus’ tinha a cara de seu
povo, que sendo o senhor das suas próprias terras, era o protetor da cultura
vigente e da representação de cada cultura.
Pode parecer inócua a questão, mas a pergunta que mais
denuncia o meu olhar para o mundo é: “Quem é o meu ‘deus’”? Isso porque existem
muitas manifestações do que se pode chamar ‘deus’ que denunciam apenas a
manifestação do meu próprio eu, condicionado a refletir na crença aquilo que
abunda dentro de mim mesmo. Mesmo na Fé Cristã, a pessoa de Deus ao longo da
História recebeu diversas personalidades.
Ontem, na reunião do Caminho da Graça de Salvador,
procuramos refletir essa questão. Além da proposição da pequena história acima,
lemos os textos de Salmos 19, Malaquias 1:11 e o episódio de Pedro e Cornélio,
no Livro dos Atos dos Apóstolos, capítulo 10. Vemos que os Salmos mostram que “Os
Céus proclamam a Glória de Deus, e o firmamento as obras de Suas Mãos”, nos
conduzindo ao entendimento de que o próprio Deus e toda a Sua Criação dão testemunho
Dele. Procuramos perceber que, mesmo tendo a Mensagem Eterna, somos
co-participantes dessa Glória com muitos outros que, ouvindo a Voz de Deus sem “palavra”,
puderam-na percebê-la sem o aparato religioso que, maioria das vezes, o diminui
para o tamanho de nossa estupidez. O Deus que é livre nos deu o privilégio de
anunciar a Sua Mensagem, nos colocando no lugar de gente que, com gratidão pelo
que Ele nos revelou, aceitam com alegria divulgar o que está pronto: Um mundo
Reconciliado!
Mas isso não nos torna necessariamente especiais.
Isso porque, à semelhança do escrito em Malaquias, o Deus
que é livre declara que “Grande é o Meu Nome entre as Nações e Sacríficios são
oferecidos em muitas delas para mim”. O Deus que criou a todos não nos fez
especiais a ponto de estarmos em uma elite humana que, por conta disso, pode
condenar, julgar, desprezar e separar gente que, apenas por questões sociais,
culturais e políticas não prestam culto ao Deus que apenas testemunha seu
próprio interior.
O tipo de olhar que empresto à Vida denuncia o Deus que
creio.
Por último, percebemos que esse Deus livre e Bom se permite
não ser fixo, e estar crescendo diante dos meus olhos, o que na verdade
denuncia que na Caminhada ele cresce apenas ao meu entendimento, enquanto minha
percepção Dele se amplia. Isso é explicitado no evento em que Pedro tem uma
visão de um lençol vindo do Céu, acompanhado de uma voz que dizia: “Pedro, mate
e coma”, ao que ele responde “Não, Senhor”.
Existe momentos que nossas certezas nos permitem dizer não a
Deus.
Porque o Deus que não está perfeitamente explicado e claro
aos nossos olhos não é fácil de ser ‘digerido’. Um Deus que não dá explicações,
que nos surpreende para o nosso bem, esse sim, é um Deus difícil de lidar.
“Não chames de impuro aquilo que Deus purificou” – responde a
Voz.
A história contada no início pode parecer tola, mas esse
menino retratado nela é Cristo. A foto que conhecemos de Deus, seja por texto
ou ensino, é apenas a imagem que não esmiúça o Deus inalcançável ao nosso
entendimento. A fotografia do menino é apenas a imagem do Espelho (I Cor
13:12). A expressão congelada de alguém que nos chama à experiência com esse
Pai.
Que em nosso Caminho possamos responder a essa pergunta não
com palavras, mas em Espírito e Vida. Assim, sem voz, o mundo conhecerá o Nosso
Pai.
Boa semana!
Anderson Villaverde
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