Há alguns dias eu li uma
reportagem dizendo que as igrejas evangélicas brasileiras estavam sendo
expulsas de Angola. Essa notícia me chamou atenção, e mesmo eu tendo prometido
para mim mesmo que o assunto “igreja evangélica” não entraria mais na pauta dos
meus escritos, ainda assim me senti compelido a escrever algo para alguns que
ainda se interessem em me ler.
Realmente, levando em
consideração tudo o que já conheci sobre a igreja evangélica, em especial essa
representação tosca brasileira que apenas denota tudo o que de pior tem aqui, é
o mesmo que sobra nos campos da política nacional desde tempos remotos. Claro
que, diante de um país plural, não dá para definir a ‘cara’ da tal “igreja evangélica
nacional”. Entretanto, podemos de alguma forma definir traços baseados em
comportamentos em suas defesas comuns.
Como fenômeno social, é fato: a
igreja evangélica tem um valor importante.
E por quê?! Ora, é evidente que
como moderador de consciências, principalmente no que se refere aos campos da
marginalidade, ela potencializa uma mudança de comportamento social no que diz
respeito a seguir as regras básicas da sociedade do chamado ‘bem-comum’. Diante
disso, toda a sua justificativa moral fica bem embasada, porque é evidente que
a ‘maioria’ (de onde deriva a origem da palavra moral) quer uma sociedade mais
justa, segura, respeitosa e ordeira.
Mas será que é só isso?
No que se refere à ética, aí sim,
a coisa começa a complicar. Pelo menos nos últimos 30 anos (praticamente a
minha idade). Porque diante das dificuldades e entraves com os quais a
sociedade brasileira se deparou, a “igreja” seguiu uma cartilha bem contrária ao
que se pode chamar ‘ético’ (do grego ethos
– telhado). Ela mostrou que, ao longo dos anos e principalmente na atualidade,
os únicos valores dignos de serem mantidos são aqueles que perpetuam a sua existência
de forma confortável, segura e reinante. Começa, nesse momento histórico, para
os líderes da representação ‘evangélica’ o interesse por cargos políticos,
posições de poder. Enfim, “os primeiros lugares” (Mc 12:39) onde quer que estejam.
Não cabe a mim, no momento, a destrinchar os momentos exatos em que estas
coisas começaram a acontecer, ou então, ‘dar nome aos bois’. Mesmo assim, é
seguro que, do ponto de vista ético, o telhado da “igreja brasileira” vem se
mostrado bem furado, cheio de goteiras por todo o lado, mesmo tendo aparência da
mais bela cerâmica.
No Evangelho de Marcos, Jesus
falou uma parábola interessante. Bem clara, porém aparentemente ignorada pelos
líderes religiosos, sejam os de outrora ou os de hoje. Ela fica no capítulo 12
e fala, de maneira simples e sábia como tudo em Jesus, que um homem viajou para
um local distante. E iria passar muito tempo nesse local, por conta do que,
deixou outros homens tomando conta de Sua Vinha. Passando algum tempo, ele
mandou vários representantes dele para ver como andava sua plantação. Mas esses
vinhateiros, vendo que seu dono estava longe, começaram a agir da forma que
queriam. Desses mensageiros, alguns foram humilhados, expulsos,
ridicularizados, outros até mortos. Diante dessa situação, o Dono da Vinha
pensou: mandarei meu Filho – A Ele respeitarão. Os vinhateiros quando viram o
Filho pensaram: Este é o Filho. Vamos matá-lo e a Vinha será nossa. E o
mataram, jogando para ‘fora’ da Vinha.
No fim desse conto Jesus
questiona: “Quando o Dono voltar o que fará com estes Vinhateiros Maus? Os
destruirá e arrendará a Vinha a “outros”. Claro, os líderes religiosos diante
dessa parábola se enfureceram, entendendo que contra eles Jesus proferiu-a.
Porém, mesmo ela tendo se cumprido profeticamente com Jesus, estamos perdendo
alguma coisa? Será que, diante dos nossos olhos, não estamos vendo o mesmo se
cumprindo diante dessa nossa realidade atual?
Jesus, o Evangelho de Deus, tem
sido morto todos os dias diante dos nossos olhos. Morto quando O vendem, quando
O negociam, quando O usam da forma que querem para atender seus interesses
escusos. Todos os dias, os vinhateiros, que supostamente se ‘apoderaram’ da
Vinha, matam o Evangelho e O jogam para fora.
É difícil prever o que virá deste
processo todo em tempos após nossa geração. Mas como ouvi de um amigo, se só
temos a nossa geração para fazer algo. Hoje, não consigo mais me ater às questões
relacionadas à “igreja evangélica”. Com todo o respeito àqueles que ainda compõem
esse fenômeno histórico, penso que ela é apenas fruto de todo o somatório
piorado das nossas idiossincrasias, seja como indivíduo ou a sociedade, como um
todo. Nesse momento, retorno à notícia do governo da Angola que proibiu todas
as igrejas, inclusive a Universal, de operar no seu país. Na notícia, percebo
que a razão de proibirem a Igreja Universal foi diferente das demais. Enquanto
as outras enganam as pessoas, se aproveitando das esperanças e necessidades alheias,
segundo a notícia, a IURD apenas está sendo autuada por falta de segurança.
Nesse momento, não consigo deixar de pensar novamente na parábola que diz que apenas
o Dono da Vinha pode, quando vier, ‘destruir’ os vinhateiros maus e arrendar a
vinha a outros.
Penso que isso já está
acontecendo, de maneira lenta. Tudo à nossa volta denota isso.
Meu desejo, sinceramente, é que
isso tudo acabe (tudo mesmo). E que mesmo aquilo que se mostra como saída
possível de uma espiritualidade sadia, um dia, se transforme naquilo que de
fato deva ser desde o início...
“...em Espírito e em Verdade”.
Anderson Villaverde.
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